28 November 2010

Reflexos

Ontem revi-me. Pela primeira vez vi-me completamente reflectida noutra pessoa. Não o que sou, mas o que fui. E finalmente compreendi o que passaram aqueles que durante meses tiveram de me levar pela mão, numa luta constante e diária, para me tirar do chão em que teimei deitar-me.

Custa, dói, frustra, ver alguém preso debaixo de anos de memórias longínquas, incapaz de avançar, um pouquinho que seja, em direcção ao futuro que se presenteia diariamente à nossa frente, limpo, novo. Principalmente quando são pessoas que merecem esse futuro, pessoas boas e dignas, castigadas pelos erros da vida ou pela simples inocência das decisões.

Todos nós temos uma altura na vida em que caímos, sem rede, num abismo qualquer. E a primeira vez que o fazermos é aterrador. A queda é longa e a recuperação dura. Não sabemos como voltar a assentar os pés na terra, tentando perceber como foi que nos colocamos naquela posição. Ficamos amedrontados e receosos que o mesmo suceda vezes e vezes sem conta. Ficamos soterrados em memórias, fantasmas, receios. Paramos, simplesmente, de viver. Aterrador.

Eu arranjei maneira de sair daí, aos poucos. Apoiando-me num e noutro pilar. Disseram-me um dia, três Rita, mantêm na tua vida sempre três pilares, quando as ondas do mundo vierem, eles manter-te-ão de pé, sempre. E mantiveram.

Quando a coragem volta, tudo é mais fácil. Aprendemos a enfrentar o mundo de peito aberto, porque sabemos, lá no fundo, que já nada nos pode derrotar. Quando se cai a primeira vez acontece uma coisa muito boa e uma coisa muito má. Perdemos a nossa inocência e fé no mundo em prol da certeza que sempre, sempre, teremos em nós a força para voltar a tentar.

Não sei como te estender a mão. Não sou a pessoa certa para o fazer. Mas queria conseguir fazer-te perceber que estás a desperdiçar a tua felicidade nessa gruta onde te enfiaste. Queria explicar-te que cá fora o sol brilha, muitas vezes por entre nuvens. E que vale a pena. Vale sempre a pena.

Eu, mantenho em mim todos os sonhos do mundo. Devias fazer o mesmo.

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