Ontem, durante umas horas, perdi-me entre álbuns de fotografias. Adoro fotografias antigas, mesmo quando são de pessoas que não conheço. Gosto principalmente de fotos a preto e branco ou as primeiras fotos a cores, com aquela tonalidade amarelada e exposição tão características. Gosto particularmente das fotos com paisagem urbana, onde se vêm ruas salpicadas de carros pequeninos e redondos. Ora verdes, ora bege.
Fiquei com a clara certeza que a vida era mais simples naqueles dias. A felicidade mais fácil. O materialismo que se instalou no nosso mundo matou-o. Já não sabemos ser felizes com pouco. Já não sabemos aproveitar as coisas simples da vida. Tudo é rápido e fugaz. Nesses tempos convivia-se. Foi nesses tempos que nascer o amor-e-uma-cabana. Amor esse que agora só se faz em T2 de luxo e jantares à luzes de velas com prendas pelo meio. Já não se cultivam relações. Cultiva-se materialismo e sexo. Muitas vezes em troca de algum tipo de materialismo.
Estava um dia lindo de quase-quase inverno. O sol aquecia corpos e almas a quem quisesse. E na esplanada dos cafés não pairava quase ninguém. As pessoas deixaram de saber conviver. De partilhar ideias e presenças físicas. Tornou-se tudo virtual. Cada um no cantinho do seu lar, onde as ideias dos outros só penetram se nos dermos ao trabalho que as ler. Tudo controlado. Quase esterilizado. As pessoas não se misturam, não se combinam. Nem nas amizades, nem nas relações.
Curiosamente, quando se preparava para passar todas estas ideias para o mundo virtual (com o devido toque de cinismo, claro, não estivesse eu também confortavelmente sentada no quentinho do meu lar) debatia-se na televisão o impacto desde estilo de vida na vida sexual e amorosa dos nossos dias. Ele que só vai para a cama às 3h da manhã porque fica a jogar PS3, ela que está demasiado preocupada com perder o emprego para sequer conceber a ideia de sexo. Passa o dia separados e adoravam chegar a casa e não estar lá ninguém para lhes dar cabo da cabeça. Entretêm-se constantemente com outras pessoas, que buscam apenas o sexo numa relação. Simplificam. Esterilizam. E eu, mais uma vez penso, não quero viver aqui.
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