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Só agora, que me sinto finalmente a levantar os joelhos do chão onde me deixaste, é que consigo olhar, em vista panorâmica, para as marcas que deixaste em mim. Eu sabia que elas iram estar lá, mas de alguma forma achei sempre que se desse tempo suficiente as feridas acabariam por sarar por completo e que eu ia voltar a ser a pessoa que fui contigo. Ia ignorar todo o sofrimento que me causaste, e ia voltar a entregar-me ao mundo como o fazia nesses dias.
Infelizmente as coisas não são exactamente assim. E eu, que sempre gostei de me fazer ás coisas de cabeça, sem ponderar, sem pensar nas consequências, sem desconfianças, sem medos, dou comigo a pensar em cada pequeno passo que dou. Sim, há alturas em que desligo, que não quero saber, que digo o que quero e penso depois, que faço e depois pondero, mas são apenas pequenos momentos em que me deixo levar pela fantasia de voltar a ter aquilo que um dia achei que ia ter contigo.
Mas amanhã é sempre tarde demais, e durante a noite o sonho esfria, a insegurança ganha terreno e amanheço de novo com o medo reflectido nos olhos.
Foi isto que deixaste para mim. E por muito que tenha crescido e que isto seja bom para mim, há dias em que continuo a desejar que nunca te tivesses cruzado no meu caminho.