24 October 2008

Subscrevo

O modelo político vigente não vê pessoas. Vê números. Considera que são as pessoas que devem servir a Economia e não a Economia que deve servir as pessoas. É ingénuo acreditar que isso não gera vítimas. Em nome da Economia que não serve quase ninguém, vai-se perdendo a vida todos os dias, adiando todos os dias a esperança de ser feliz. O trajecto casa-emprego-casa é cada vez mais uma simples transformação de oxigénio em dióxido de carbono. Respira-se sofregamente com o olhar inerte sempre no dia de amanhã, que talvez seja melhor. É a Economia que nos diz que, em nome de um futuro qualquer que nunca chega, devemos abdicar do presente. Todos os dias, todos os presentes.Na rua procuram-se sorrisos entre as faces desbotadas, enquanto se esquadrinham as ruas contornando ombros ora caídos, ora endurecidos. E não se encontra nem um que não seja esculpido à força pela obrigação. A obrigação de atender um cliente ao balcão duma loja, a obrigação de se mostrar que não se está triste. Mas em nome da Economia tudo vale: um código de trabalho feito com a contribuição do provedor de empresas de trabalho temporário, que despe a dignidade a quem trabalha e quem, todos os dias e todos os presentes só queria conseguir olhar de frente os filhos que tem em casa; e todos os dias e todos os presentes se subsidia uma crise económica gerada por quem nos rouba esses dias e esses presentes. Todos os dias em nome de nada.O crescimento económico não é desenvolvimento económico, e por isso também não é o desenvolvimento de nada, a não ser desta contínua morte lenta que nos cinge silenciosamente. Não é desenvolvimento social, não é desenvolvimento intelectual, não é desenvolvimento emocional, e a merda da compra a crédito dum automóvel com gps não substitui a falta de sabor que não conseguimos ter quando abraçamos quem amamos, ou era suposto amarmos. Já nem sabemos bem. Sabemos só que todos os dias e todos os presentes vamos sobrevivendo amparados ao que está prestes a cair.Nos jornais discute-se pseudo-política por quem nem sequer sabe o que isso é. A questão verdadeira não é onde se constrói a merda dum aeroporto ou se o computador Magalhães já chegou às escolas. A questão de fundo é o modelo político em que vivemos... e esse está errado. Todos os dias e todos os presentes.Bom fim de semana a todos os leitores e leitoras deste blogue, e obrigado por existirem.

Roubado aqui.

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