24 January 2008

Dia do elogio

Talvez seja uma das condições de ser humano – esquecemos tantas vezes o que é importante, tomamos como certas algumas coisas na nossa vida esquecendo-nos de lhes dar o devido valor.
Passei 15 anos da minha vida às turras com a minha mãe. Chamam-lhe adolescência ou lá o que é. Aquela luta constante de direitos e deveres tentando encontrar um equilíbrio precário a cada passo que diminua os atritos. Todas as filhas têm relações difíceis com as mães, estranhava aquelas miúdas que depositavam nas mães as maiores confidências. Hoje em dia entendo-as um pouco melhor mas continuo a achar que mãe é mãe e toma-ma como a nossa melhor amiga poderia ser abdicar de uma data de características especiais que só as mães têm. Mãe nunca falha quando é preciso, seja para apoiar, abanar ou dizer coisas que só mais tarde farão sentido. Mãe ensina de uma forma única, há muita coisa que aprendi dela que espero não esquecer para poder passar àqueles que serão um dia os netos dela. Aprendi não só com o que reconheço bem feito e bem construído como com os erros de ambas.
Hoje, que é o dia de parar e elogiar – que seja pelo menos hoje já que tantas vezes nos esquecemos de o fazer – acho que o melhor elogio que posso fazer àqueles que de tanto me abdicaram para fazer de mim um ser melhor a cada dia, tantas vezes contra a minha vontade, é o reconhecimento de que foi um empenho com uma grande vitória final. Hoje sinto-me grande. Sinto-me completa, sinto-me íntegra e forte. Hoje sinto que sou tudo aquilo que tinha potencialidade para ser. Nenhum agradecimento verbal será algum dia suficiente para agradecer a quem dedica tantos anos àquilo que foi um dia apenas uma pequena vida, intacta e pura. Espero no futuro ter a força que me ensinaram para retribuir essa dedicação.

17 January 2008

14 January 2008

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Tenho andado desligada da escrita, não é nada normal em mim. Sou, por norma, uma pessoa emocionalmente instável e com necessidade de libertar para o papel tudo o que me inquieta. Tenho andado um pouco desligada das coisas, mais do que o costume, devido à fase que vivo. Sinto que a minha vida ficou em suspenso desde que terminaram os exames e assim ficará até conseguir arranjar um emprego. O projecto não me motiva, a empresa não me motiva... vou andar à deriva até que tudo termine.

Não tem sido complicado para mim deixar a cabeça correr, sonhar com casas e com carros, com férias e com jantares. Perco-me em móveis e em hotéis, perco-me em momentos. Construo-os cuidadosamente e depois vivo-os, no meu mundo, no nosso mundo.

Mas algo mudou. Sei-o pelo medo que sinto, que me tem assaltado. Dia após dia, noite após noite, quando pouso a cabeça na almofada e quando abro os olhos de manhã. É uma espécie de aperto, um “não saber respirar”. É uma coisa com a qual nunca vivi. E comecei a pensar sobre o porquê do aparecimento desde medo, desta insegurança.

A entrada de uma pessoa especial na nossa vida é gradual, a entrada de qualquer pessoa na nossa vida é gradual. Ao início é só mais uma pessoa e como o tempo apercebemo-nos do quão especial ela é. É nessa altura que nos começamos a apegar a ela. Mas mesmo quando nos começamos a apegar a uma pessoa, é gradual. E há uma linha clara ao longo desse percurso que se percorre, é quando perdemos todo o controlo sobre aquilo que sentimos. É a altura em que nos apercebemos que a falta dessa pessoa iria criar uma falha grave na nossa vida.

Já há muito tempo que me apercebi do quão especial és e já há muito tempo me apeguei a ti. Mas acho que de alguma forma só agora cheguei a esse limite, a essa linha. A linha a partir da qual o meu mundo deixa de existir para sempre. Desta linha para a frente será o nosso mundo. Desta linha para a frente o teu desaparecimento seria pago com a minha vida pois eu deixaria de existir. Desta linha para a frente o sonho deixa de ser apenas fumo o começa a construir-se, pedra sobre pedra. Desta linha para a frente não há volta atrás.

Daí os medos, daí as inseguranças e os apertos. Conheces o meu percurso e sabes que os meus medos não vêm de ti. Os meus medos estão nos outros, no mundo fora do nosso. O meu medo é que algo te leve de mim, algo externo, algo que nos assalte sem contarmos. O meu medo é perder-te.

Esta é a minha batalha, hoje. Não te peço desculpa porque esta batalha não fui eu que a criei e é fruto apenas de coisas que vivi antes, noutra vida. Peço-te apenas paciência. Mas quero que saibas que sei bem que é contigo que quero ficar, que é a ti que quero e que é nas tuas mãos que quero depositar a minha vida...

11 January 2008

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Nunca fui uma pessoal muito introspectiva. Não paro para pensar nas voltas que a vida me deu nem para aprender com os erros que fiz. Normalmente comigo tudo é desculpado, com mais ou menos tempo. Tenho tendência a esquecer mágoas e não guardar rancores.
Mas às vezes paro e hoje parei para pensar no número de pessoas que entrou e saiu da minha vida recentemente. Assusta. A facilidade com que as relações são substituídas. Voltas e voltas e o assunto é sempre o mesmo: o egoísmo que assentou na nossa sociedade e nas pessoas que dela fazem parte.
Lembro a forma como essas pessoas entraram e saíram. Amigos antigos de quem se perdeu o contacto por razões estúpidas, amigos de amigos que se deixaram esquecer, pessoas que nos empurram para fora das suas vidas porque deixamos de ter utilidade, o café que nunca mais se tomou, a chamada que nunca mais se retribuiu, o sms esquecido no fundo da lista dos recebidos ao qual nunca mais houve 3 minutos disponíveis para responder.
As relações, todas as relações, dão trabalho a manter. Com pais, irmãos e amigos. Com parceiros e companheiros. As coisas constroem-se mas o tempo degrada tudo, é preciso manutenção, atenção. É preciso disponibilidade, cuidado. É preciso vontade.

Se calhar hoje vou tentar não me esquecer disto como costumo e dar um pouquinho mais de mim àqueles que valem a pena.