22 July 2010

O acordar tornou-se mais rápido nos últimos tempos. É sempre assim quando a vida se torna confusa. Sente o corpo pesado e a mente parece que trabalha a noite toda. Nunca sabe se há-de acordar feliz ou miserável. São os únicos sentimentos que conhece. Não que importe muito o sentimento com o qual acorda, sabe que não vai durar.
Quando acorda bem faz-se forte. Encara a vida de cabeça erguida. Consegue ver no espelho algo de que gosta. Consegue encontrar na alma alguém de quem se orgulha. Encara a vida como uma evolução constante. Cuida-se.
Quando acorda mal acorda derrotada. Volta ao que era por ser mais fácil. Evita o espelho e vai à varanda acender um cigarro. Ontem tinha deixado de fumar. Ontem tinha deixado o álcool e o sexo. Hoje até a simples fricção da camisa no peito a incomoda. Vai passar mais um dia à procura de algo ou alguém que a satisfaça. Vai olhar para cada pessoa, cada colega com quem se cruzar, analisando-lhe os potenciais e deixando-se levar por fantasias. Cansou-se da meiguice dos homens. Procura algo rápido e brusco. Arrebatador e agressivo como a dor que lhe acerta cada vez que um deles lhe esfaqueia a alma. No final do dia, naquela cama enorme e vazia, sabe que o prazer chegará pela forma das mesmas mãos que ultimamente lhe percorrem o corpo numa redescoberta constante de cada ponto – as suas.